O que mudou com a hospitalização do parto?

A partir da década de 1970, com a transição dos partos para o meio hospitalar em Portugal, assistimos a uma diminuição acentuada das taxas de mortalidade materna e fetal — um avanço inegável na segurança clínica. No entanto, essa mudança trouxe também um aumento significativo nas intervenções obstétricas.

O médico passou a assumir um papel central no acompanhamento da gravidez e do parto, encarando muitas vezes este processo fisiológico como uma doença a tratar. O protagonismo da mulher foi sendo progressivamente ignorado. O seu envolvimento nas decisões relacionadas com a gravidez e o parto tornou-se limitado — e, por vezes, totalmente anulado.

Frases como “faça o que achar melhor”, “confio em si” ou “o que decidirem para mim está bem” refletem uma postura de afastamento da mulher em relação ao seu próprio processo de nascimento, consequência de uma cultura em que as decisões são delegadas exclusivamente aos profissionais de saúde.

Esta falta de empoderamento pode gerar consequências importantes: dificuldades na vinculação mãe-bebé, aumento do risco de trauma e depressão pós-parto, menor taxa de amamentação, entre outros desafios emocionais e relacionais.

O regresso ao protagonismo

Nos últimos anos, cada vez mais mulheres procuram recuperar o seu lugar central no processo do parto, assumindo um papel ativo nas decisões que envolvem o seu corpo, o nascimento do seu bebé e a sua experiência pessoal e familiar. Esta mudança de consciência nasce da vontade de evitar partos excessivamente medicalizados e repletos de intervenções desnecessárias.

É neste contexto que surgem novos modelos de assistência ao parto, baseados na evidência científica, no respeito pela fisiologia e na humanização dos cuidados. Um dos mais relevantes é o conceito das Casas de Parto.

 

O que são Casas de Parto?

As Casas de Parto são unidades independentes (geralmente fora do contexto hospitalar) que oferecem um ambiente acolhedor, íntimo e respeitador da autonomia da mulher. Como o próprio nome indica, são locais que procuram proporcionar à grávida a sensação de “estar em casa”.

Nestes espaços, a mulher pode:

      • Comer, beber, andar, descansar, dançar;

      • Ver televisão, ouvir música, conversar;

      • Estar sozinha ou acompanhada;

      • Ser observada ou manter a privacidade.

A equipa de profissionais está presente, mas atua com discrição e apenas quando necessário, respeitando o ritmo e as escolhas da mulher. As Casas de Parto são geridas por equipas de parteiras e, em alguns países, funcionam em articulação com hospitais públicos.

Em Portugal, ainda não existe nenhuma Casa de Parto em funcionamento.

Centros de Nascimentos Fisiológicos: uma ponte possível

Para quem deseja um parto sem intervenções desnecessárias, mas prefere (ou precisa) de estar num ambiente hospitalar, existe um modelo já implementado noutros países: os Centros de Nascimentos Fisiológicos.

Estes centros funcionam dentro ou anexos a hospitais, mas com uma arquitetura e organização distintas: mais intimista, menos medicalizada, mais próxima de um ambiente familiar. A ideia é juntar o melhor dos dois mundos:

      • A fisiologia e a autonomia da mulher, respeitando o seu ritmo e protagonismo;

     • A segurança clínica do meio hospitalar, com acesso imediato a cuidados médicos e cirúrgicos caso sejam necessários.

Neste modelo, a grávida saudável não é tratada como uma doente. O parto é reconhecido como um evento natural e fisiológico, que pode decorrer sem intervenções — desde que tudo evolua dentro da normalidade.

Um novo paradigma para nascer

A criação de Centros de Nascimentos Fisiológicos representa uma mudança importante na forma como encaramos o nascimento:

      • Promove partos mais respeitados, mais conscientes, mais positivos;

      • Devolve à mulher a confiança no seu corpo e na sua capacidade de parir;

      • Reduz intervenções desnecessárias, melhorando os resultados maternos e neonatais;

      • Contribui para maior satisfação e bem-estar no pós-parto.

Este modelo de assistência, focado na autonomia da mulher e na liberdade de escolha, deveria ser uma opção real e acessível dentro do Serviço Nacional de Saúde, sem preconceitos nem juízos de valor. A diversidade de experiências e preferências deve ser respeitada — nenhuma mulher deve sentir-se limitada ou desencorajada nas suas escolhas.

 

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